top of page

Guri curioso

Atualizado: 11 de out. de 2024

Naldo Luiz Dalmazo

A imagem mostra uma criança, sentada no banco do passageiro de um veículo, olhando pela janela. O cenário externo é verde, sugerindo que pode ser uma área rural ou natural.

Nos meus oito anos, pude ver quanto o mundo era maior que o rincão onde cresci.

Havia vida, novas coisas, novas ideias em ação


Com satisfação, o portal Meu Agro passa a contar com a participação do consultor em gestão de empresas e extensão rural Naldo Luiz Dalmazo, engenheiro agrônomo, consultor em Gestão e Extensão Rural com mais de 40 anos de experiência no mercado. Seu foco é o gerenciamento de processos e formação de equipes. Nos últimos anos atendeu as mais conhecidas empresas do agronegócio Carnes incluindo JBS, BRF, BANVIT na Turquia e várias das grandes cooperativas exportadoras no Brasil. Foi gerente de Gestão na Sadia, gerente de plantas Industriais onde pôs a mão na massa e entregou resultados com os métodos que ensina hoje. Toda sua formação foi feita a partir dos princípios e métodos da Gestão pela Qualidade Total. Fez especializações em Gestão e Marketing na FGV e Dom Cabral. No início da carreira e ainda hoje dedica-se à formação de extensionistas (veterinários e agrônomos) e supervisores agro em métodos de educação de adultos, transferência de tecnologia e mantém este foco em conexão com a gestão de negócios. Consulte: https://naldodalmazo.com.br


Eu fui um guri criado no interiorzão do Rio Grande do Sul. Tudo longe, até pegar ônibus era uma batalha. Tínhamos que andar vários quilômetros pelo meio de invernadas e fazendas. Ainda ressoa na minha cabeça o barulho do gado xucro correndo com medo de nós e nós com medo dele. Íamos a pé. Chegava-se numa ponte, parávamos para lavar os pés e calçar os sapatos que apertavam aqueles pés de lancha habituados a plena liberdade.

 

Éramos felizes naquele rincão isolado onde vivemos nossa infância. Felizes, mas em nosso pequeno mundinho. Depois fomos morar em Bagé, também longe, mas perto da ferrovia. Um dia meu pai me convidou para acompanhá-lo a uma viagem. Íamos buscar um secador de arroz que havia sido comprado. Tomamos o trem, depois um caminhão até Pelotas e depois até Barra do Ribeiro onde eram fabricados os secadores. Quanta novidade, quanta inovação pude ver naqueles três dias do ano de 1963. Primeiro o nariz colado na janela do trem com seu teleco-téco, depois o caminhão por estradas desconhecidas.

 

Dormimos num pequeno hotel em Pelotas aonde fui pela primeira vez a um mercado público, com suas muitas frutas desconhecidas, bancas sem fim, peixes nunca vistos, cores em profusão, balburdia de gente a dar com pau, se ombreando em contraste com o isolamento onde eu vivia. E depois a mais incrível novidade. Estrada asfaltada. Parecia que tinha água lá na frente, onde o horizonte junta estrada com o céu. Aquilo tudo me abriu a cabeça.

 

Nos meus oito anos, pude ver o quanto o mundo era maior que a minha pequena aldeia. Havia vida, novas coisas, novas iniciativas em ação. Dei-me conta que precisava vencer a timidez de bicho e conhecer mais, aprender mais, ver novas realidades. O mundo era muito maior que o rincão onde cresci. E não tem jeito. Para aprender é preciso sair da toca, ir ver o diferente, conhecer novas realidades.

 

Em extensão rural fazemos muitas excursões. Numa excursão os extensionistas dão aos agricultores a oportunidade de ver coisas novas, tecnologias já aplicadas por vizinhos, às vezes bem perto de sua casa, com novos processos, novas formas de fazer. Na excursão não há intermediários. Os agricultores têm a oportunidade de conversar entre si, de falar, de perguntar como eles fazem, saber que tipo de problema apareceu durante a implantação.

 

Os agricultores da Nova Zelândia usam a expressão “aprender olhando por cima da cerca”, para caracterizar a situação em que o produtor aprende vendo como seu vizinho está conduzindo a mudança. É possível que você já tenha sido convidado para uma excursão. Talvez já tenha participado de uma ou mais. Não deixe de participar e vá com a mente aberta como foi aquele menino lá em 1963. Sem crítica. Apenas deixe as novas ideias entrarem. Depois, conversando com seu extensionista você vai encontrar a melhor forma de aproveitar este tempo, estas ideias, como eu, com o nariz colado na janela do caminhão. 

 

(Crônica publicada no Jornal BRF Rural – Edição: Junho/2012)

Comentarios


bottom of page