O agronegócio brasileiro é forte, mas não tem a pujança desejada
- Mario Faccin
- 16 de mar.
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Mario Faccin

Nosso setor pode suprir a demanda mundial por alimentos e o seu reconhecimento
deve ficar acima de opções político-partidárias
Em 2016, uma rede de televisão lançou a campanha publicitária chamada Agro: a indústria-riqueza do Brasil, com o slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. O bordão entrou na moda se tornou um símbolo desse movimento e despertou muita polêmica alardeando a ideia de que o agro não é apenas produtivo, mas inovador, presente e essencial.
Durante o tempo em que foram divulgados, os anúncios promoveram a aceitação de uma imagem acabada do agronegócio, retratando-o como inquestionável em suas proposições, com capacidade para oferecer soluções para uma ampla gama de questões relacionadas a sua influência. Isso contribui para consolidar a visão do agronegócio como uma entidade onipresente, que se expande e pode ser encontrada em todos os lugares. A realidade, no entanto, comprovou que o agro era somente uma indústria de interesse, um alvo comercial para os donos da promoção.
Ações de marketing à parte, o agronegócio brasileiro é, comprovadamente, um dos segmentos econômicos de maior evolução e capacidade de gerar riquezas, reduzir as disparidades sociais, e atuar como importante propulsor para o crescimento do produto interno brasileiro. O setor começou 2025 com intenso crescimento nas exportações e abertura de dezenas de novos mercados internacionais, consolidando a expansão registrada no último ano. Eu, na condição de produtor e industrial ligado à suinocultura, comemoro até agora o fato do nosso País ter produzido 5,36 milhões de toneladas de carne suína em 2024, o maior volume já registrado na história.
Estamos crescendo, somos fortes e respeitados, temos suprido a demanda mundial em termos agroalimentares, mas existem divergências inegáveis de discursos e cabe a nós tomar o protagonismo da fala para isso mudar. Precisamos trocar nossa imagem, especialmente e - em um primeiro momento - de maneira interna. O brasileiro precisa conhecer o setor e reconhecer que muito tem sido feito.
Temos obrigação de exigir nosso lugar, evoluir, nos aprimorar, aumentar o tom de voz e mostrar isso ao mundo. Nossa capacidade produtiva caminha ao lado da busca por uma produção sustentável e carece de foco. O setor é grande, mas precisamos de musculatura e confiança. Para isso, é importante investir em educação e exposição positiva.
Nossa capacidade para alimentar a população do planeta coloca todos os em uma posição de enorme responsabilidade. Somos líderes, mas essa liderança exige mais do que produtividade. Requer inovação, consciência ambiental e capacidade de adaptação para encarar os desafios como oportunidades, manter a relevância global e garantir margens saudáveis para os produtores brasileiros.
Para comprovar nossa pujança, precisamos de políticas públicas e soluções integradas. Entre outros exemplos a precariedade de nossa logística de conexão entre centros produtores e consumidores, a precariedade de acesso aos portos, a própria estrutura portuária.
Não se concebe que a malha ferroviária nacional deixe de fora os estados de Santa Catarina e Rio Grande Sul, nos obrigando a usar transporte rodoviário para atender demanda de grãos produzidos no Centro-Oeste para alimentar os animais que produzimos.
É inacreditável que os produtores catarinenses não contem com uma rodovia duplicada de leste a oeste, para dar vazão aos grandes volumes de exportação de aves e de suínos. No meu entender, a iniciativa privada do setor tem como principal gargalo a falta de conexão nas decisões e, em relação ao poder público, o que mais pesa contra é a ausência de regimes permanentes, seguros e voltados, efetivamente, a quem impulsiona o progresso. Nosso agronegócio é maior que qualquer disputa política e as decisões precisam ser de consenso, envolvendo governantes, autoridades, pesquisadores, empresários, profissionais e produtores voltados a objetivos comuns.
A pujança à qual faço referência tem, entre outros significados, relação com o conceito de ser importante, corajoso, influente, intenso e acima de tudo atuante em favor das conquistas, do crescimento e do sucesso de todos os atores do nosso agro, independentemente de partido ou preferência de classes, grupos ou indivíduos.
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