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Papel das fibras na composição das dietas alimentares dos frangos

Ideraldo Luiz Lima

A complexidade e variabilidade da estrutura física e química tornam essa

porção da alimentação das aves mais desafiadora de entender


Os carboidratos representam o maior constituinte das dietas de aves e são um dos componentes alimentares menos compreendidos na alimentação de frangos de corte. Isso é especialmente verdade para a fibra alimentar. Diferentes relatos consideram a fibra como um componente funcional para os órgãos digestivos, ou como um fator antinutricional.

 

Importante salientar a complexidade e variabilidade da estrutura física e química da fibra, o que torna essa porção da dieta mais desafiadora de entender química e fisiologicamente. Ela pode ser definida como um grupo de compostos heterogêneos, incluindo todos os sacarídeos (exceto amido) ou seja, oligossacarídeos, polissacarídeos, pectinas, gomas, ceras e lignina, que são resistentes à hidrólise enzimática nos animais monogástricos. De maneira simplificada a  fibra é a soma de polissacarídeos não amiláceos solúveis e insolúveis (NSP) e lignina.

 

As fibras solúveis podem aumentar a viscosidade da dieta interferindo na digestão e absorção de outros nutrientes e devem ser evitadas em dietas de aves ou quando presentes sugere-se o uso de enzimas (carboidrases exógenas), para contrapor estes efeitos deletérios. A maneira como as fibras exercem seus efeitos parece estar relacionada com alterações na morfologia, no crescimento de órgãos, na digestibilidade de nutrientes e mais recentemente com a microbiota do trato gastrointestinal.

 

Morfologia intestinal: os mecanismos pelos quais a fibra funciona no trato gastrointestinal dependem de diversos fatores, destacando-se a estrutura química, o tamanho da partícula e o nível de inclusão, entre outros. Há consenso de que a inclusão de fibra aumenta o comprimento intestinal, a altura das vilosidades e a profundidade da cripta, interferindo na taxa de passagem do bolo alimentar.

 

Crescimento de órgãos: as espécies de aves têm um trato digestivo característico composto de bico, esôfago, papo, pro-ventrículo, moela e intestino (delgado e grosso). O pro-ventrículo, a moela e os intestinos desempenham o papel de digestão e absorção e são, portanto, os mais influenciados por mudanças na dieta. O pro-ventrículo é onde o ácido clorídrico é secretado, mas devido ao seu pequeno volume, a maior parte da digestão mecânica ocorre na moela. A inclusão de fibras afeta ambos, o pro-ventrículo e a moela.

 

Um papel importante da moela é regular o tamanho das partículas da digesta no trato gastrointestinal com a capacidade de detectar e modular a passagem de alimentos do trato digestivo superior para o intestino delgado com base no tamanho das partículas. Fatores como o tipo de fibra e o tamanho das partículas são fatores determinantes que estimulam a atividade muscular da moela, resultando em aumento do tamanho. A retenção normal de ração na moela demonstrou ser entre meia hora a uma hora, o que pode aumentar até duas horas quando componentes estruturais, ou seja, fibras são adicionados às dietas.

 

Digestibilidade de nutrientes: o trato digestivo das aves não possui enzimas que possam digerir ligações do tipo β 1 - 4, β 1 - 3 e β 1 - 6 muito presentes nos polissacarídeos não amiláceos. Desta forma, a inclusão destes polissacarídeos reduz a performance pela diluição da ingestão de nutrientes e são evitados em grandes inclusões. A inclusão de fibras insolúveis (como a celulose) pode melhorar a utilização de nutrientes pela maior atividade das enzimas pancreáticas e peristaltismo reverso fazendo com que a bile possa chegar à moela e aumentar a digestibilidade do bolo alimentar. Fibras solúveis como pectinas e arabinoxilanos aumentam a viscosidade intestinal, reduzindo a absorção de nutrientes, modulam a taxa de passagem e podem criar um ambiente propicio para crescimento de microrganismos.

 

Microflora e saúde intestinal: o impacto da fibra sobre a população microbiana dependerá do tipo e da quantidade de fibra na dieta. Fibra solúvel possui impacto direto, pois pode ser utilizado pelos microrganismos presentes principalmente no ceco, fornecendo energia e outros nutrientes como substrato para a produção de metabolitos que irão afetar diretamente a saúde intestinal das aves.

 

Oportunamente, voltarmos a publicar neste espaço artigos de interesse dos leitores.

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