Para a China, grãos brasileiros ficam mais baratos que dos EUA
- Jachsson Beal
- 9 de mar.
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Jachsson Beal

Conflito econômico entre EUA e China coloca o Brasil em uma posição estratégica,
mas também delicada em relação aos preços das commodities
A guerra comercial entre Estados Unidos e China entrou em um novo capítulo, após a imposição de tarifas adicionais pelo governo americano de Donald Trump sobre importações chinesas, canadenses e mexicanas. Em resposta, Pequim anunciou sanções contra produtos agropecuários americanos, o que deve redirecionar a demanda chinesa para o Brasil e a Argentina, tornando os grãos brasileiros mais competitivos no mercado asiático.
As novas tarifas chinesas preveem um acréscimo de 15% sobre as importações de milho, trigo, algodão e frango dos EUA. Para soja, sorgo, carne suína e bovina, a tarifa é de 10%. Atualmente, a tonelada de soja nos Estados Unidos está cotada a aproximadamente US$ 361,28, enquanto no Brasil o preço está em US$ 381,67 por tonelada. Com a tarifa de 10% imposta pela China, a soja americana passaria a custar US$ 397,41 por tonelada, tornando o produto brasileiro a opção mais acessível para os importadores chineses.
O mesmo ocorre com o milho, que terá uma tarifa adicional de 15% aplicada sobre as importações dos EUA. No mercado americano, a tonelada do cereal custa US$ 173,32, enquanto no Brasil o preço está em US$ 162,00.
A nova tarifa elevaria a cotação do milho dos Estados Unidos para US$ 199,32 por tonelada, consolidando a preferência pelos fornecedores sul-americanos e ampliando as oportunidades para as exportações brasileiras.
A dependência chinesa do fornecimento brasileiro de grãos não é novidade.
Segundo Instituto do Agronegócio (IA), durante o primeiro mandato de Trump tarifas semelhantes impostas pela China aos EUA levaram a um aumento médio de 148% nos prêmios pagos pela soja brasileira nos portos nacionais, especialmente em 2018 e 2019. Com a nova rodada de sanções, analistas esperam um movimento semelhante, o que pode beneficiar os produtores brasileiros no curto prazo.
Além da questão tarifária, há outros fatores que favorecem o Brasil. O país já possui relações comerciais bem estabelecidas com a China e uma estrutura de exportação consolidada para soja, milho e carnes. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) indicam que os exportadores brasileiros estão preparados para atender à crescente demanda chinesa.
Contudo, especialistas alertam para riscos futuros. A maior dependência chinesa dos grãos brasileiros pode gerar reações dos Estados Unidos, que já investigam importações brasileiras de produtos como madeira e móveis sob alegação de ameaças à segurança nacional.
Um possível endurecimento das relações comerciais entre Brasil e EUA poderia afetar o agronegócio brasileiro no longo prazo. Além disso, a instabilidade dos mercados internacionais pode levar a oscilações nos prêmios de exportação e nos custos logísticos.
"A guerra comercial entre Estados Unidos e China coloca o Brasil em uma posição estratégica, mas também delicada. Precisamos monitorar os desdobramentos dessa disputa para evitar volatilidade excessiva nos preços das commodities", afirma Isan Rezende, presidente do IA.
Outro ponto de atenção é a possibilidade de Pequim restringir negócios com tradings americanas, que operam também no Brasil. Caso essas empresas tenham limitações para atuar no mercado chinês, a logística brasileira de exportação de soja e milho poderia ser afetada, prejudicando os produtores nacionais.
Diante desse cenário, especialistas recomendam que o Brasil diversifique seus mercados, reduzindo a dependência excessiva da China. "Precisamos ampliar acordos comerciais com outros países e fortalecer nossa infraestrutura logística para garantir maior previsibilidade ao setor", destaca Rezende.
(Fonte: Agrofy News – Daniel Duarte – Adaptado por Meu Agro)
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