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Um novo e abrangente conceito de qualidade

Paulo Emilio Lesskiu

Para prosperar num cenário tão adverso e competitivo, precisamos

estar preparados para o futuro que nos espera


Recentemente no Brasil, o setor agro repercutiu sobre o posicionamento de lideranças de empresas francesas, que alegaram deixar de comprar nossos produtos em função do não atendimento de normas e requisitos locais.

 

Entidades de classe e governamentais, rapidamente se manifestaram reforçando o alto padrão de qualidade dos produtos brasileiros exportados. Reforçaram, ainda, que toda a organização do setor, o compromisso de produtores, governo e toda a cadeia de suprimentos são as fontes garantidoras e mantenedoras do prestígio que os produtos brasileiros têm no mercado internacional.

 

Mas o que fatos como estes têm a ver com a gestão da qualidade? Atualmente, muito diferente do que se vivia no passado, a qualidade é estruturada a partir de análises mais amplas, globais e relacionados a cenários externos ao ambiente produtivo das empresas. Ou seja, anteriormente, a gestão da qualidade dependia de características inerentes ao processo produtivo, como por exemplo qualidade de matérias primas e cumprimento de padrões de produção.

 

Atualmente a gestão da qualidade depende de referenciais mais amplos. Crises sociais, culturais, geopolíticas e econômicas trouxeram uma nova abordagem sobre a gestão da qualidade, as quais alteraram valores e procedimentos das organizações.

 

Na prática, os conflitos entre oferta e demanda de produtos (na maioria das vezes por produtos essenciais), somados a todas as incertezas inerentes a uma crise econômica, evidenciam claramente a dependência da gestão da qualidade do equilíbrio entre a oferta e a demanda dos mercados.

 

Resumidamente, as retrações de demanda refletem a reação de uma porção expressiva de consumidores à situação econômica vigente, assim como o excesso de oferta indicam a falta de reação das organizações a uma nova realidade de mercado. Desta forma, a qualidade depende do equilíbrio entre essas duas forças.

 

Em sua essência, a qualidade passou a ser uma relação de consumo, ou seja, uma relação com os mercados (Paladini, 2019). Num novo conceito de qualidade, a versatilidade e a rapidez com que as organizações se adaptam às crises e lançam mão de formas especificas de relação com os mercados, são elementos diferenciais entre permanecer no mercado ou sucumbir.

 

Mas como sobreviver e prosperar num cenário tão adverso e competitivo?

 

Primeiro: continuar investindo nos processos produtivos, mantendo a geração de produtos de qualidade e seguros. Afinal de contas, o que trouxe reconhecimento internacional da carne e da soja brasileiras, por exemplo, foram as qualidades intrínsecas dos produtos associadas a uma oferta adequada ao mercado. Ações voltadas à eficiência dos processos, incorporação de novas tecnologias, mitigação de custos, análise e controle da produção, soluções logísticas e de otimização de processos sempre serão bem-vindas.

 

Segundo: monitorar os movimentos de consumo dos mercados, promovendo inovações em seus processos e adaptando a sua oferta às realidades do mercado. Nesse sentido, a participação dos produtores em feiras e eventos, o acesso a informações confiáveis e tempestivas, a busca por soluções de crédito que lhe permitam modernizar suas instalações, a manutenção de práticas de biosseguridade na propriedade, a participação em entidades de classe, assim como participar de discussões proativas com seus stakeholders podem tornar o caminho menos tortuoso.

 

O que sabemos é que os últimos fatos noticiados pela mídia não serão os últimos. Precisamos estar preparados para o futuro que logo ali nos espera.

 

Em breve, voltaremos com mais artigos sobre Qualidade no agro, do campo à mesa.

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